Friday, November 10, 2006

HAJA CORDAS

(versão integral do texto publicado, hoje, no Correio da Manhã)


HAJA CORDAS

Saddam foi condenado à morte por enforcamento.

Como os vulgares ladrões de cavalos no velho Oeste.

Cenário perfeitamente adaptado às fantasias infantis do cow boy que habita a Casa Branca.

Um tribunal de faz de conta, destinado a dar satisfação aos desejos de uns quantos que estão tão pouco inocentes como Saddam nos muitos crimes cometidos pelo ex ditador, em desgraça,( e responsáveis por muitos mais só por sua conta)fez o seu trabalhinho. Com exemplar afinco , como vulgares mangas de alpaca.

Num Iraque que já não sabe contar os seus mortos,e onde (graças a Saddam, Bush e Blair) pouco valor tem a vida, mais um, menos um, pouco importa(passe a insensibilidade).

O que está em causa é o simbolismo que os mentores dos seus carrascos e seus patetas aliados de ocasião (alguns jornalistas de todo o mundo incluídos) quiseram atribuir-lhe.
Porque a condenação de Saddam é, apenas, o resultado directo da maior fraude político militar internacional dos últimos decénios, que foi a miserável encenação do episódio da existência de armas de destruição maciça.
Depois desta monumental falsificação da história os acontecimentos seguintes , porque dirigidos pelos mesmissimos comparsas , sempre teriam de ser uma sucessão de outras grosseiras mentiras.

Saddam é um cadáver encarcerado que já não mete medo a ninguém no seu país e países vizinhos.
Paradoxalmente só já só mete medo a Bush, pois Aznar já lá vai há muito tempo e Blair também já fez as malas. Rumsfeld já era. O senado e Câmara nos EUA acertaram agulhas.
Só o lacaio Barroso, que nos envergonhou a todos, continua Á espera do pontapé da história.

Julgou-se Saddam por que ousou questionar interesses geo estratégicos e energéticos dos seus invasores. Interesses que ( esses sim) eram verdadeiras armas de estruição maciça , como infelizmente, se demonstrou.
Até ele manifestar essa ousadia os seus invasores ,muito distraídos, nunca descobriram que ele era um sanguinário ditador!

Julgou-se Saddam porque Washington e Londres nunca quiseram evitar nenhum dos seus crimes aos quais durante anos fecharam os olhos.

Julgou-se Saddam porque a debilidade política de Bush lhe permitiu fantasiar que, desse modo, estaria a dar uma satisfação aos cidadãos americanos.

Erradamente, como veem demonstrando as muitas manifestações contra a guerra, as sondagens de opinião pública e o clima critico que impera por todo.

E como definitivamente confirmaram as eleições de Terça Feira passada onde os Republicanos averbaram uma derrota histórica e perderam as maiorias nas Câmaras e muitos governadores estaduais.

Ironia das ironias. Saddam foi julgado por crimes contra a humanidade. O mais vulgar e impune dos crimes desde que o homem é homem.

Saiu-lhe a taluda a ele.

Europeus ( os grandes mestres) e americanos ( os seus melhores apredizes), como muitos outros pelo mundo fora, são autores e co autores , insensiveis e descarados, desde há seculos, e diáriamente, de gravissimos crimes crimes contra a humanidade.
A que mem sequer os seus próprios cidadãos escapam.
E NUNCA DERAM POR NADA!!?!!!

Saddam acusado de genocidio, com as suas muitas mortes no curriculo, não é um criminoso maior que os líderes mundiais que , para além de serem perigosos e sempre potenciais agressores, se recusam a pôr termo às situações de pobreza, fome e doença extremas que dizimam milhões de pessoas por ano. E de que as maiores vítimas são as crianças.

NÃO EXISTE nenhuma diferença entre matar com balas, bombas ou misseis ou porque se recusa alimentos ou asistência médica a quem a não tem.E sem ela estaá liquidado.
É só o espalhafato , o ceário, que muda.

É, realmente, exemplar esta morte anunciada.
É a morte de um louco, , triste , acabrunhado, e só. Abandonado e traído por outros loucos.

Provavelmente ninguém fora do Iraque chorará por ele.

Os grandes criminosos deste mundo roubaram-nos a capacidade de reagir.

Lamentemos, então, que alguns ditos "tribunais" continuem, friamente, a legitimar alguns homicidios , dando-lhes uma aparência de legalidade, num "remake" supostamente civilizado, mas tão só anacrónico e doentio, da pena de talião.

Levássemos nós a sério a punição de todos os crimes contra a humanidade e não haveria cordas que chegassem.

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