Thursday, February 09, 2006

CARTOONS


Quando um autor autentica a sua obra, como criador, assume os custos das reacções que ela possa provocar. Do mais profundo deleite à mais obstinada rejeição. Sentirá gratificação , indiferença ou rejeição.
É o risco, e o custo, do don, verdadeiramente único, de criar.
Podemos, ou não, solidarizar-nos com um autor. Aderir à sua obra.
Se ninguém o fizer ele fica refém da mesma, solitário no campo de batalha.
Todas as reacções a uma obra de arte que não sejam de verdadeira, profunda e espontânea adesão são artificiais. Caiem em domínios estranhos aos da arte. São produtos da especulação.
E, então,tudo é possível.
São usos e abusos ilegitimos que o verdadeiro criador devia denunciar e rejeitar.
Acontece que , hoje, com a arte transformada numa poderosa industria, o verdadeiro criador é uma ave rara.

CARTOONS-II

A arte admite limites? Em abstracto não.Mas voltamos sempre à definição de arte e de artista.
Poderemos sempre, no entanto,dizer que os admite. Mas apenas, os que resultem da vontade do criador, da sua estrutura como artista e como homem, das forças que "o possuam" no acto de criação.

A obra de arte não precisa de adeptos circunstanciais.
Abomina-os. Fala por si . Será ela própria, a resposta a todas as investidas de que seja objecto.
E a própria definição (estatuto) de obra de arte que a protege.
A obra de arte, mau grado o comércio que elas porporcionam, por um abastardamento que não foi feito ( mas de boa vontade consentido) pelos artistas, tem não outro objectivo senão proporcionar prazer.

CARTOONS -III
Há obras de arte de 1ª, 2ª e 3ª categoria?
Um cartoon de um colaborador diário da imprensa, empregado de uma publicação, com a responsabilidade de apresentar regularmente o seu "boneco" tem a mesma dignidade que uma obra "espontânea" imposta pela pulsão de criar?
Não têm. Por mais inspirados e primorosos que possam ser os operários da arte com obrigações, com horários, com preço pré fixado.
Fabricar "arte" é diferente de ser subjugado pela pulsão de criar.

CARTOONS-IV
A liberdade de expressão é conciliável com a escolha dos temas que tornamos objectos de expressão?
Voltamos ao princípio. A liberdade de expressão não estando objectivamente condicionada, pela lei, por patrões ou por qualquer outra pessoa ou entidade que detenha os meios para o fazer, é uma questão intima. É o artista o julgador e o beneficiário e/ou a vítima da sua própria decisão.
Criar problemas nacionais ou internacionais em função de coisas tão simples é tomar, ilegitimamente, dores que não são nossas. Deturpá-las. Aproveitá-las. Com sinal mais ou com sinal menos. Poucoimporta.

CARTOONS-V

O episódio dos cartoons publicados pelo jornal Dinamarquês só despoletou equívocos e reacções estremadas.
No Ocidente e no mundo Islamizado. Nos políticos e nos líderes religiosos.Toda a gente embarcou na mistificação, que uns poucos preperaram. Ateus e crentes, religiosos , agnosticos, laicos, curiosos e os habituais comentadores com vontade de "dizer coisas"
Nos jornais e nas televisões.

Ninguém escapou.
Vale a pena resuscitar alguns desses equívocos.
I-Alguns comentadores querem, a todo o custo, encontrar um culpado.
A culpa é dos cartoonistas, dos jornais , do mundo Islâmico ou...nossa. Que não temos coragem para mostrar aos fanáticos activistas Islâmicos que "cá com os ocidentais não brincam" (sic). Que não devemos "dobrar a lingua" nas nossa reacções de repúdio da violência a que se tem assistido.
É indiscutível que a Europa tem uma outra forma de analisar o problema e não deve modificá-la.
É indiscutível que todos os actos de violência devem ser condenados.
E só por uma absurda convicção de alguns comentaristas ( que , eles sim, só lamentam algumas formas de violência, porque o que lhes interesssa não é condenar a violência, mas apoiar ou atacar pessoas, grupos de pessoas ou comuniddes) se pode pensar que todos nós temos obrigação de declarar o óbvio sempre que abrimos a boca.E o óvio é A rejeiçao de todo e qualquer tipo de violência seja quem for que a pratique. Como se fez em resposta à nota de Freitas do Amaral.
Esses pseudo vigilantes da boa ordem , mentirosos profissionais, querem que digamos aquilo que sentimos e eles não sentem e sempre se negaram a dizer.
Culpados , para encurtar razões, são os autores materiais dos actos de violência. O resto é alimentar a confusão que muitos desejam.

II- Outros já vão ao ponto de pôr em causa a construção europeia. De uma europa forte e coesa, indispensável à defesa dos interesses dos europeus.
A resposta política ao ataque de embaixadas é só uma . O fecho das embaixadas, a retirada dos embaixadores e pessoal diplomático, o encerrramento das embaixadas dos países agressores nos nossos países e corte de relações diplomático/políticas.
Mas aí os nossos soberbos e zarolhos guias esprituais hesitam. Porque sabem que o que lhes interessa preservar é muito mais importante. As relações comerciais face às quais, na filosofia globalizante que nos envolve, todos os outros valores passam a ser secundários.
Ignorantes ou hipóctritas é o que eles são.
Ponto final.

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