Friday, April 14, 2006

EU, pecador me confesso...

A verdade é que eu já não me tinha em grande conta quanto a questões de santidade.
Mas, condescendente, quanto baste, comigo próprio, e olhando ao que via à minha volta lá ia conseguindo sobreviver. Dividia os pecados em grandes e pequenos. Em desculpáveis e não desculpáveis . E os meus, evidentemente, (pois era eu próprio o catalogador...) eram todos pequenos e desculpáveis. Dormia descansado.
Eis senão quando, na Terça Feira passada , o cardeal norte Americano James Francis Stafford de que nunca ouvira falar, me tirou o sono.
O reverendo anunciou, em ante estreia mundial, o novo rol das actividades consideradas como pecados pelo Vaticano.
E atirou comigo e quase todo o mundo para as chamas do inferno.Eu bem que desconfiava que neste mundo super povoado alguma coisa teria de acontecer para obstar a que o céu se transformasse numa espécie de China noutra dimensão. Um lugar sem sossego possível, onde todos se acotovelam e não há lugar para mais ninguém.
O problema está resolvido. A partir de agora quem vir muita televisão, passar muito tempo a navegar na net ou for, como eu, um viciado na leitura está condenado.
De um dia para o outro vi-me transformador num grande pecador, sem escapatória possível. Coisa que, com um esforço moderado, sempre tentei evitar ser.
E a coisa agora é ainda mais complicada que nos tempos da Santa Inquisição, porque o Vaticano nos deixa sem referências. Podia , pelo menos, dar-nos uma listas de autores ungidos e mandar queimar os outros como nos bons velhos tempos. Podia ser que sobrasse alguma coisa.
Mas não. Segundo parece , agora, é tudo uma questão de dose. O gosto pela leitura tornou-se igual à gula. Quem exagere no seu tempo de leitura (ou de TV ou de navegação na net) está liquidado. Verá a sua alma cremada, sem apelo nem agravo.
Confesso que nalguns momentos de maior fraqueza muitas vezes me passou pela cabeça que no Juízo Final me iria sentir muito pouco à vontade.
Mas que me perderia por não resistir a uns bons contos, uns excelentes romances, deliciosa poesia ou uns magnificos ensaios é que nunca me tinha passado pela cabeça...
Andava distraído.
Mesmo que eu deixasse de ler agora já não escapava.
A não ser que o novo cardápio dos pecados não tivesse aplicação retroactiva, coisa que o bispo não esclareceu.
Vou pensar como é que dou a volta a isto e já volto.
Faço questão de continuar a dormir como um anjo.

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